Referência da Educação: a trajetória de Sirlei Moro
Após 18 anos como diretora do Laranjeiras, ela vive a primeira experiência no ensino particular
Um ícone da educação regional. Assim pode-se definir Sirlei de Fátima Moro. Professora de Português e pedagoga por formação, ela construiu carreira em outro posto: como diretora. No Colégio Laranjeiras, passou 18 anos conduzindo a instituição. Durante este período, consolidou-o com padrão de ensino de altos índices no Ideb.
Aos 51 anos e há pouco mais de um afastada do ensino público, Sirlei encara um novo projeto de vida: como sócia e pedagoga do Colégio Reference, instituição particular de Laranjeiras. Em entrevista ao Correio, Sirlei contou sua trajetória, revelou que precisou fazer terapia para deixar o Colégio Laranjeiras e fez comparações entre os dois modelos de ensino.
O início
Sirlei nasceu na comunidade de Rio Bananas, em Nova Laranjeiras – na época um distrito de Laranjeiras do Sul. De família de 13 irmãos, em sete tornaram-se professores, Sirlei cursou o magistério e teve sua primeira experiência dando aula no ensino municipal, na Escola Antônio Ribeiro, em 1988.
E se atualmente a região dispõe de instituições de ensino superior ao gosto dos universitários – federal, particulares e a distância – na época a situação era diferente. O local mais próximo para cursar era Guarapuava. A paixão e profissão almejada por Sirlei era de fato ser professora, mas de Educação Física.
“Sempre gostei muito de esportes. Era daquelas que iria cedo para a escola para jogar bola. Só que o curso não existia em Guarapuava. Então, como faltavam professores de Português, fiz Letras e peguei aulas rapidamente”.
Estreia como diretora
A primeira vez como diretora ocorreu no início da década de 1990, na Escola do Buriti, em Nova. Enquanto cursava Letras, Sirlei foi chamada para substituir uma professora na então Escola Laranjeiras, que oferecia tão somente o Ensino Fundamental II e dividia sua estrutura com a Escola Aluisio Mayer – hoje instalada em outro local.
A relação intrínseca com o Laranjeiras
Desde então, foram raros momentos em que ela desvencilhou-se do Laranjeiras. Em 1995, por exemplo, deu aulas no Érico, mas no ano seguinte retornou à instituição e em 1998 iniciou a era como diretora do Colégio.
“Nesta época, foi quando percebi que ficaria muito mais na área de gestão escolar. Então, fui cursar pedagogia”, conta.
Ela esteve no cargo até 2008, quando, esgotada física e emocionalmente, conseguiu uma licença. Depois, voltou a trabalhar no Núcleo Regional de Educação e o regresso ao Laranjeiras ocorreu no 2º semestre de 2011. Naqueles meses, voltou a dar aulas de português, mas apenas logo no ano seguinte retoma a direção.
Após 18 anos conduzindo os destinos do Laranjeiras, Sirlei consolidou o Laranjeiras com referência estadual em índices no Ideb e em olimpíadas. Até 2008, Sirlei teve de enfrentar problemas no Colégio, como a falta de espaço físico. “Sempre mantivemos um padrão de qualidade e sempre com muita procura por vagas. Mesmo com estrutura limitada, não deixamos baixar o nível. A escola começou a sair do pátio. Construímos ‘casinhas’ de madeira, mas a vigilância nos impediu de usá-las, então os alunos foram estudar em salas do Supletivo. Isso escancarou o descaso do poder público com a escola, que sempre teve ótimos índices. Então, os chefes do Núcleo começaram a olhar diferente diferente para o Laranjeiras”, relata.
Já durante o período de afastamento de Sirlei, vieram reforma, ampliação e o Ensino Médio. Ao retomar o cargo, em 2012, a diretora conseguiu que a instituição tivesse alto índice de aprovação nos vestibulares. “Foi sempre um trabalho com os colegas, em parceria com os pais. Você não faz educação de qualidade sozinho”, diz.
Primeira a chegar, última a sair
Quem acompanhou o trabalho de Sirlei como diretora, sabe da dedicação incessante. Reconhecida pelos funcionários como a primeira e última a chegar à escola, ela teve dificuldades para acostumar-se à ideia da aposentadoria, em 2019.
“Eu me afastei em 2019. Peguei uma licença, pois não queria me afastar da educação, mas eu estava no limite físico e emocional, tal qual em 2008. Eu nunca consegui me afastar totalmente da escola. Mesmo nas férias, se a escola estava aberta eu não conseguia ficar longe dela. Isso me fazia bem, enquanto eu estava lá. Era energia para mim. A escola tem demanda para todo dia, ela não para e a minha mente não desligava”.
Foi necessário um ano e meio de terapia para parar com a função. “O Colégio Laranjeiras era a extensão da minha casa. A minha primeira geladeira está no colégio. Eu doava as minhas coisas para a escola: sofás, guarda-roupas, armários. Eu levava muitas coisas, para que a escola tivesse coisas que não estavam ao alcance dela”.
“Fiz terapia para poder me aposentar”
Chegado o momento de pendurar de vez o jaleco, Sirlei cogitou alternativas para a nova vida. Preocupada em preencher o tempo – antes rareado e agora imenso – iniciou a faculdade de Moda, mas deixou-a por não adaptar-se às práticas da costura. Projetou ter um comércio de artesanatos, mas não levou a ideia para frente.
“Se você não tem profissão ou algo que lhe vincule, parece que é só mais um ser. Eu não era mais a Sirlei do Laranjeiras, eu era a Sirlei. E eu sentia a necessidade de fazer algo útil à sociedade”.
O Reference
Durante a pandemia, num encontro do caso com a professora Giovana Garcia, soube do projeto do Reference, novo colégio particular da cidade.
“Ela falou do Reference e não levei muito a sério. Parecia algo muito distante, mas ela me ligou novamente para que fosse até ela ouvir todo o projeto. Educadamente eu fui, sem pretensão, acabamos formando a sociedade. É um momento profissional que não sonhei, mas que eu gosto”, explica.
Além de sócia, ela é a pedagoga da instituição . “Como não estou na flor da idade, penso em me dedicar aqui nos próximos três anos. Não quero me desvincular tão cedo, mas quem sabe um dia possa ser só a sócia e trabalhar aqui remotamente”.
Público versus privado
Ao fazer comparações com o ensino público e privado, Sirlei Moro reconhece vantagens deste mas revela saudades do outro. “Não existem muitas diferenças, já que precisamos seguir uma legislação. O diferente é a quebra de paradigmas. É terrível perceber que o particular olha para a pública como se ele não tivesse nada de bom. A autonomia da privada não é algo tão diferente, pois preciso seguir um regimento. Mas existe o material, que é um diferencial no particular. Nós temos a autonomia de estudar e escolher um material que nos agrade, pedagogicamente falando. Hoje se pede uma escola tecnológica e nós estamos conseguindo oferecer isso, enquanto a pública tem vontade mas não depende dela. Ainda assim, sinto falta da equipe que tinha no Laranjeiras. Era maior. Aqui sou a única pedagoga e não tenho com quem dividir as minhas dúvidas no dia a dia da educação”.
Os hobbies e a avaliação da educação
Sirlei, que elege a leitura e os filmes como seus principais hobbies, diz que vem buscando equilibrar a dedicação no Reference, para que não se torne excessiva. “Antes eu só passava por dentro de casa e não é fácil reverter isso”.
Para a educadora, no Paraná a educação vive um momento delicado, que passa pelo saturamento da profissão. “Há muita gente com diploma, mas sem cultura e criatividade. Nisso, falta o diferencial do profissional. Para ser educador hoje, não se pode apenas pensar no retorno financeiro. O que faz as pessoas ficarem na área é o vínculo. Nada te dá tanto prazer na sociedade quanto ser professor. Aos 51 anos, tenho valores que não teria se não fosse professora, com o contato com pais e alunos”.