Sementes brasileiras

“Precisamos promover um diálogo entre diferentes setores, como produtores, pesquisadores, associações e governo, a fim de fortalecer o setor no Brasil”, afirma o especialista

Advogado, agrônomo, produtor rural e presidente de cooperativa, Paulo Pinto de Oliveira Filho, é ainda reconhecido como uma das principais autoridades no Paraná e no Brasil quando se trata da produção de sementes e cultivares. Em conversa exclusiva com o Correio do Povo, ele destalhou o histórico das sementes brasileiras, destacando a importância da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) no avanço tecnológico do setor agrícola. “Foi diante da necessidade de suprir a demanda interna de alimentos nas décadas de 1960 e 1970, que o Brasil encarou desafios significativos e que hoje levam o país a ser um dos maiores exportadores de alimento do mundo.

Desenvolvimento tecnológico

Segundo doutor Paulo, a Embrapa fundada em 1973, desempenhou um papel crucial no desenvolvimento tecnológico do agronegócio no país. Naquela época, o Brasil enfrentava dificuldades para produzir alimentos suficientes para suprir a demanda interna. A Embrapa foi criada com o objetivo de buscar informações, criar tecnologias e soluções para o setor agrícola.

“Inicialmente, a Embrapa era muito menor em comparação com o que é hoje, mas ao longo dos anos expandiu suas pesquisas e atualmente possui 94 plataformas de pesquisa espalhadas pelo país. Cada plataforma, como a Embrapa Soja, Embrapa Arroz, Embrapa Feijão e Embrapa Leite, foca em diferentes áreas de pesquisa agrícola. O desenvolvimento de variedades de culturas adaptadas ao cerrado, por exemplo, tornou a agricultura viável nessa região”, explica Paulo.

Edição de DNA

Ele destaca que a Embrapa continua sendo uma instituição de extrema importância, tendo recentemente desenvolvido uma tecnologia revolucionária chamada ‘Crispy’. Essa tecnologia permite a edição do DNA das plantas, direcionando sua produção de acordo com as necessidades e expectativas dos agricultores. Esse avanço tem sido aplicado no desenvolvimento de novas variedades de soja que possuem características como maior teor de proteína, produtividade, resistência à seca e tolerância a doenças e pragas.

O doutor Paulo ressalta que a edição genética não é considerada transgênica, pois não envolve a introdução de material genético de outras plantas. Em vez disso, trata-se de uma edição precisa do DNA para corrigir ou melhorar características específicas das plantas cultivadas.

“Essa evolução no campo das sementes é de grande importância, pois permite aumentar a produtividade, a resistência e a qualidade dos alimentos. A tecnologia tem despertado o interesse e debate em congressos e eventos relacionados ao setor agrícola tanto no Brasil quanto no exterior”, afirma Paulo Pinto.

Regulamentação e monitoramento

Além da Embrapa, Paulo também destaca o papel de outras instituições e associações na pesquisa e produção de sementes. Ele menciona a Fundação Meridional, composta por produtores multiplicadores de sementes que atuam nos estados do Sul e Sudeste do Brasil, e que trabalha em parceria com a Embrapa nas áreas de pesquisa de soja e trigo.

Paulo também menciona a, Associação dos Produtores de Semente do Estado do Paraná (Aprasen), da qual ele foi presidente, e a Associação dos Produtores de Sementes do Brasil (Abrasen), da qual ele é vice-presidente. Essas associações desempenham papéis importantes na regulamentação e no monitoramento da produção de sementes no Brasil. Elas promovem a troca de informações entre os produtores, estabelecem padrões de qualidade e garantem que as sementes comercializadas estejam de acordo com as normas estabelecidas.

Novas variedades

O doutor Paulo ressalta a importância de se investir em pesquisa e desenvolvimento de novas variedades de sementes, buscando sempre melhorar a produtividade, a adaptabilidade das plantas às diferentes condições climáticas e desafios enfrentados pelos agricultores.

Ele destaca a relevância da preservação da biodiversidade e da utilização de sementes crioulas, que são variedades tradicionais e adaptadas localmente, para garantir a segurança alimentar e a sustentabilidade agrícola.

“Precisamos promover um diálogo entre diferentes setores, como produtores, pesquisadores, associações e governo, a fim de fortalecer o setor de sementes no Brasil. Temos que ter investimentos contínuos em pesquisa, infraestrutura e capacitação para impulsionar a inovação no campo”, afirma o especialista.