Uma mulher na Câmara de Laranjeiras
Valeide Scarpari fez campanha tímida e alcançou a segunda maior votação da história de uma mulher para o cargo
Valeide Terezinha Scarpari Lascoski. 52 anos. Mais de 30 dedicados à prestação de serviços na área de saúde pública. Casada há 26 anos e mãe de um jovem de 20, ela entrou para a história de Laranjeiras do Sul neste fim de semana.
Pela primeira vez concorrendo a um cargo político, Valeide surpreendeu e alcançou 802 votos. Foi mais do que o suficiente para elegê-la vereadora do município para os quatro anos. Mais do que isso. Ela foi a mais votada do pleito e será a única mulher a ocupar uma cadeira da Câmara em 2021 a 2024. Valeide registrou também a segunda maior votação da história de uma mulher ao cargo em Laranjeiras, perdendo apenas para a ex-prefeita Sirlene Svartz, que arrebatou 824 votos em 1996.
Grandes mulheres: do serviço público à Câmara
Algumas das grandes mulheres que deixaram seu legado na Câmara laranjeirense passaram antes pelo trato no dia a dia com o povo. A própria Sirlene, que em 2012 chegou ao auge de sua trajetória política ao tornar-se prefeita, outorgou seu nome nos serviços prestados no INSS. Assim como Valeide, Ivone Portela trabalhava em um posto de Saúde. Em 2008, candidatou-se a vereadora. Venceu. Quatro anos depois, foi reeleita e chegou a ocupar a presidência da Casa. Ela faleceu em 2016 após luta intensa contra um câncer.
Política no sangue Scarpari
Apesar de ser a primeira vez a disputar uma eleição, as relações de Valeide Scarpari com a política estão inseridas no seio familiar. Ela é irmã de Valmir Scarpari – ex-vereador e candidato a prefeito de Porto Barreiro – e de Valdemir Scarpari – atual vice-prefeito de Laranjeiras.
Filiada ao PSD, ela contou ao Correio que recebeu o convite para disputar a eleição para ajudar o partido na composição mínima de mulheres. Ela não só aceitou, como definitivamente enfrentou o desafio.
“Comentei na época que, se eu precisava sair candidata para ajudar o partido, iria atrás dos meus votos. ‘Quero chegar lá, assim como os homens’. Mas não imaginava que eu seria a primeira colocada”.
O trabalho na saúde
A eleita acredita que o trabalho desempenho nos postos de saúde – sem ambição – foi crucial para a vitória nas urnas. “Muitas pessoas me conhecem, chegam até a mim e eu ajudo da melhor maneira possível. Às vezes não está no meu alcance, mas procuro ajudar de alguma maneira. Não gosto de deixar a pessoa sem uma resposta. Trabalhei em prol da população não pensando nisso, pois é o que gosto de fazer”, explica.
Campanha de porta em porta
Na campanha, Valeide dispensou a mídia e suas ferramentas. Garante não ter investido nada além de suor e força de vontade. Seus companheiros de caminhada foram o marido e o filho. Assim, foram de porta em porta, passando por centro, bairros e interior do município.
“Eu chegava na casa e a pessoa me dizia: ‘só vou votar por causa de você, pelo que me ajudou lá atrás. Vou pedir um voto para o meu filho, para o meu cunhado’”, conta Valeide, que acredita que as pessoas reconheceram seu trabalho ao longo das décadas neste domingo.
Depois da vitória, o compromisso
A partir de 2021, Valeide precisará corresponder às expectativas da população. “Não quero decepcionar meus eleitores. Quero fazer o que eles estão esperando de mim, principalmente as mulheres. Muitas disseram: ‘mulher vota em mulher e irei votar em você’. Lógico que recebi votos dos homens, dos senhorzinhos, que nem precisavam votar mais, mas foram em consideração a mim”.
Ela encerrou a conversa com a reportagem agradecendo a confiança do povo. “Do fundo do coração, gostaria de abraçar cada um de vocês. Estou muito feliz pelos 802 votos, que foram de coração, sem pedir nada em troca. Foram votos de pessoas que gostam de mim. Nunca vou esquecer do que fizeram por mim”.