Volta às aulas contribui para saúde mental das crianças
Psicólogas Sara Stuber e Adriele Bortoluzzi explicam que socialização e rotina trazidas pela vida escolar são fundamentais para equilíbrio emocional dos pequenos
Acorda, toma banho, veste o uniforme, toma café da manhã, arruma o material, vai até a escola, encontra os amigos e professores, aprende, brinca. Essa pequena rotina do dia a dia escolar é muito mais que apenas uma forma de disciplinar as crianças. Ela é fundamental para trazer equilíbrio emocional para os pequenos. Por isso, a volta às aulas precisa ser encarada como um momento cheio de possibilidades de desenvolvimento, não apenas intelectual.
Depois de praticamente dois anos de pandemia, com períodos de maior ou menor distanciamento social, esses pequenos hábitos se tornam ainda mais relevantes para a saúde mental das crianças. “A escola é a maior mediadora das crianças com a interação social. É a partir do convívio social que a escola proporciona que as crianças estabelecem seus processos de aprendizagem e, consequentemente, aprimoraram suas estruturas mentais e emocionai”, explica a psicóloga e secretária de Educação de Nova Laranjeiras, Sara Stuber.
Para a psicóloga, é por meio da socialização que nos tornamos humanos, e muitas vezes o contato que as crianças estabelecem com outras de sua faixa etária ocorrem por meio da escola. Nesse sentido, a escola não deve ser pensada apenas como um local de aprendizagem da grade curricular, mas também como um local que desenvolve a inteligência emocional dos pequenos.
“O ambiente escolar estimula o treinamentodas habilidades sociais, aprimoram a capacidade de comunicação e empatia. Sendo também um local de segurança que busca o bem estar físico e social das crianças”, ressalta Sara. Esses aprendizados serão úteis para o resto da vida, desenvolvendo adultos que sabem lidar com suas próprias emoções e sentimentos.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) apresenta como exigência entre as competências gerais o convívio mutuo de crianças. Ainda que os professores e a equipe pedagógica sejam os “guias” dos pequenos no caminho do conhecimento, há muitas lições que só podem ser aprendidas quando eles convivem com seus pares de idades próximas.
Controle dos eletrônicos
Voltar para a sala de aula também contribui para reduzir o tempo gasto em frente às telas. Principalmente nos últimos dois anos, muitos estudantes só puderam estudar, conversar com seus amigos e familiares e se divertir por meio da TV, do computador ou do celular. Substituir essas atividades por conversas presenciais, exercícios físicos e leituras analógicas é uma necessidade.
É de acordo comum entre os profissionais da Educação que os eletrônicos ajudaram muito nesse período de pandemia, mas geram um excesso de estímulos que traz riscos para a saúde mental até mesmo de adultos, mas ainda mais das crianças.
Rotina é parte de uma vida saudável
A psicóloga da Lorem, em Laranjeiras do Sul, Adriele M. Bortoluzzi, relata que mesmo que nem sempre compreendam com exatidão tudo o que está acontecendo, os pequenos podem ter suas emoções abaladas por conta das mudanças da rotina em casa e nos estudos, da impossibilidade de passear e brincar em lugares abertos, da falta de convivência com avós, tios, primos, amiguinhos etc.
“Tudo isso pode gerar crises de ansiedade e estresse, birras, irritabilidade, dificuldades de socialização, maior dependência dos pais para atividades básicas e regressões nas etapas de desenvolvimento já adquiridas, como por exemplo, voltar a fazer xixi na cama ou distúrbios do sono. E essas condições podem ser potencializadas agora que muitas crianças estão voltando às aulas presenciais, o que exige novas adaptações na rotina dos pequenos e a retomada do convívio com estranhos”.
Por isso é muito importante que a criança, desde cedo, tenha horários determinados para as atividades do dia. E isso a escola faz pode contribuir. Afinal, é preciso acordar na hora certa, respeitar o tempo de aula, aguardar pelo intervalo e desenvolver outros pequenos hábitos inerentes à realidade escolar. Tudo isso ensina disciplina e ajuda a educar seres humanos mais conscientes de seu papel na sociedade.
Adriele preparou alguns cuidados essenciais que responsáveis devem ter com o retorno à escola:
Diminua a cobrança
Os cuidadores devem se atentar às formas como as crianças estão se sentindo nessa retomada, sem fazer cobranças excessivas.
Seja sensível
Com a volta às aulas presenciais, as crianças estarão mais uma vez mudando de rotina e sendo estimuladas a enfrentar um novo modo de ser.
lgumas vão se readaptar facilmente, outras não. Nesse sentido, pais e educadores devem estar sensíveis a esse cenário, auxiliando-as lentamente na retomada, criando ambientes confortáveis para que se expressem e interajam.
Incentive o diálogo
Incentivar o diálogo com as crianças as ajuda a nomear e a compreender o que estão vivendo e sentindo, permitindo que haja maior elaboração desse período e alívio do estresse emocional.
Reorganize a rotina de sono
Desligue os dispositivos eletrônicos no mínimo uma hora antes de dormir e estabeleça hábitos diários que tragam a sensação de organização, como não utilizar a cama para estudar ou assistir à aula; limite as sonecas da tarde; conte uma história; pergunte o que seu filho mais gostou naquele dia.