Nos 74 anos de Ivan Lins, as curiosidades por trás de três clássicos do músico

Conheça histórias que nortearam a criação de “Lembra de mim”, “Começar de Novo” e “Bilhete”

Um dos maiores músicos e compositores do Brasil, Ivan Lins completou, no domingo (16), 74 anos de idade. O carioca teve a carreira popularizada durante a ditadura militar, mais precisamente na década de 1970. Com a redemocratização do país, Lins reformula seu jeito de fazer música, deixando de lado o protesto para mergulhar em um tom introspectivo.

De influências que vão do jazz até a bossa nova, Ivan conseguiu que o seu jeito de fazer MPB ganhasse  o reconhecimento internacional e até mesmo de artistas aclamados em todo o planeta.  Em uma entrevista concedida para a Folha de São Paulo, o ex-integrante da banda britânica The Beatles, Paul McCartney afirmou ser consumidor da música brasileira, revelando possuir um CD de Ivan Lins em sua casa.

Não só por isso, a popularidade do ex-marido de Lucinha Lins com os gringos é ainda bastante notória. No YouTube, suas canções são repletas de elogios de fãs estrangeiros. E dentre tantos feitos, o Correio homenageia esse grande músico relembrando três grandes êxitos de sua carreira. Mais do que isso: trazemos relatos dos fatos que nortearam a criação dessas canções, feitos pelo próprio Ivan. Confira: 

Lembra de Mim

Um dos maiores sucessos do artista, a canção Lembra de mim foi composta em 1992. De acordo com Lins, ela nasceu quando ele estava nos Estados Unidos, com saudades de parentes, amigos e da natureza brasileira. A melodia até que saiu rápido, mas havia certa melancolia em mim. Quando voltei ao Brasil, essa música ficou guardada por quase 2 anos. No final de 1994 comecei a pré-produção do CD ‘Anjo de Mim’, num apart hotel, em Sampa e foi ali que desovei 3 canções da coletânea, incluindo ‘Lembra de Mim’. Não tinha letra ainda, mas já estava nas mãos do Vitor Martins – letrista, conta.

Quando chegou a letra, me deu um aperto no coração. Me veio a lembrança de uma paixão de juventude, que terminou quase bruscamente, me deixando mal quase 2 anos. Além de nunca mais ter visto, sentia medo de um dia reencontrá-la, para dizer a verdade. O que realmente aconteceu há 10 anos, na saída de um show, no extinto Canecão e balançou, mas depois passou, explica.

Em 1995, Lembra de Mim ficou eternizada ao ser tema de abertura da novela das 18 horas da Globo, História de Amor, de Manoel Carlos. 

 

Começar de novo

Imortalizada na voz de Simone, a música na verdade foi uma encomenda da TV Globo, em 1979. A emissora buscava um tema de abertura para a série Malu Mulher. Ivan ficou encarregado da melodia e Vitor Martins, da letra. O roteiro a ser seguido, imposto pelo diretor Daniel Filho, era o seguinte: falar sobre os recomeços da vida após o término de uma relação. 

Vitor, o parceiro letrista de Ivan, foi além. “Nas entrelinhas, ele deixou uma releitura, dizendo que nós brasileiros precisávamos recomeçar uma nova vida, sem as garras, molduras, escoras, esporas (citação ao General Figueiredo, na época presidente do Brasil, oficial de cavalaria e que disse que preferia cheiro de cavalo a cheiro de povo) do Regime Militar vigente”, conta Ivan Lins em seu site.

Houve dificuldade para a produção da melodia. Aproximadamente um mês foi necessário para que o que se tornaria um clássico, ficasse pronto. Quem teve a oportunidade de conhecer a obra pela primeira vez foi a cantora Wanda Sá, quando uma visitou Lins. Este demonstrou a vontade de ter apresentado a música para Elis Regina. “Ela tinha estado em minha casa uma semana antes, com seu marido César Camargo Mariano e não pude mostrar, pois não estava pronta, mas bem que teria adorado”. 

Para interpreter a música, a Globo elencou Elis, Maria Bethânia e Simone, sendo que a última ficou a cargo da função. “Nunca imaginei que ela teria essa impressionante trajetória”, diz Lins, que acrescenta que este fora o seu trabalho mais regravado no mundo. 
 

 

Bilhete

Foi composta também em 1979. Durante estadia em sua casa, em Teresópolis/RJ, Ivan e Vitor Martins viviam um momento de improdutividade que durava dias. Incomodados, seguiram o conselho de uma empregada, que os encaminhou para uma senhora rezadeira. 

Ao aceitarem o desafio, foram até uma favela, onde a rezadeira fez revelações de que eles estavam sendo alvos de mal olhado e “inveja braba”. Recomendou que os dois acendessem velas para entidades. No dia seguinte, Ivan recebeu um telefonema de Quincy Jones, que o convidou para ir até Los Angeles, conhecer os projetos que ele preparara para as músicas do brasileiro.

“Minha carreira internacional começou ali.  Claro que no dia seguinte já estávamos inspiradíssimos e a primeira que saiu foi 'Bilhete'. Fiquei meio assustado com o tema, dizendo pra mim mesmo que nunca gostaria de cantar aquilo. […] Gravei 'Bilhete' no disco 'Novo Tempo' de 1980. Ano seguinte Fafá de Belém grava e estoura a música nas paradas, com um arranjo belíssimo de César Camargo Mariano. Dois anos depois ganhei meu  'Bilhete'. O que eu temia aconteceu”, conta.