Longe da elite do Paranaense de Futsal desde 2011, Amarelinho confessa orçamento modesto, mas espera beliscar acesso na Série Prata
Despertar um gigante e fazê-lo retomar lugar no protagonismo do futsal paranaense. Esse é o plano de quem comanda o São Miguel, segundo maior campeão do futsal paranaense.
Cavalca e Verona
Fundado em 1991, como “Cavalca e Verona”, o clube estreou nas competições oficiais seis anos depois. De imediato, chegou à decisão da Série Prata, deixando escapar o título para o Arapoti, mas assegurou o acesso à elite.
Em 1998, na primeira participação na Série Ouro, foi campeão (com direito a polêmica, como o leitor descobrirá). Ali, iniciava-se uma trajetória vitoriosa. Entre 1998 e 2002, o Amarelinho D’Oeste chegou a todas as finais, perdendo o título apenas em 2001, para o Foz.
O comandante da “potência amarela” era Eduardo Coelho, o ‘Baiano’. Hoje o treinador mais vencedor da elite paranaense – seis títulos, quatro com o São Miguel e dois com o CAD -, ele recorda a chegada ao clube.
“Em 97, eu era apenas um ex-jogador, iniciando como técnico. Quando sai, em 2002, estava capacitado para enfrentar qualquer situação que o cargo exige. O São Miguel me deu a primeira oportunidade de trabalho. Confiou em mim e me permitiu conquistar espaço no futsal”, conta.

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Rivalidade com o Foz
Enquanto esteve na Série Ouro, o São Miguel fez frente a clubes dos grandes centros. A equipe, da cidade de 27 mil habitantes do Oeste do estado, era o incômodo de Cascavel e Foz. Com este último, inativo desde 2014 (o Foz Cataratas, atual bicampeão, trata-se de outra agremiação), travou rivalidade épica.
Jones de Souza, que, através dos microfones da Rádio Jornal, acompanhou toda a caminhada da equipe, de 97 até então, lembra dos duelos como de uma atmosfera mística.
“Não há palavras para descrever a rivalidade. Era um clássico reconhecido fora do Brasil. Eles quase se matavam. Os clubes tinham seguranças particulares contratados. Em dias de jogos, chegavam ônibus cheios de policiais e cães, para trabalhar na partida”, lembra.
98: das quadras para o tribunal
A decisão da Série Ouro de 1998 foi um dos primeiros embates entre os clubes. Disputada em quatro partidas, o título, dentro de quadra, ficaria com o Amarelinho, após vencer dois duelos, empatar um e perder outro – sim, foram quatro partidas nesta decisão.
No entanto, no último dos confrontos, vencido pelo São Miguel por 7×6, o Foz alegou a ilegalidade de dois gols, em que a bola teria não entrado completamente. A equipe da tríplice fronteira foi à Justiça, contestando o resultado da partida e o consequente título do rival. A ação se estendeu por aproximadamente 10 anos, até que a Federação Paranaense de Futebol de Salão (FPFS) declarou o São Miguel como campeão definitivo.

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2012 a 2017: enorme vazio
Após a conquista de 2002, o São Miguel seguiu fazendo boas campanhas. Foi vice em 2004 e 2009. Neste intervalo de tempo, foi campeão da Liga Sul de 2005.
Em janeiro de 2012, a diretoria, alegando falta de apoio financeiro, decidiu retirar o time da Série Ouro. Foram seis temporadas de futsal no Paraná sem um dos de seus mais ilustres “personagens”. Seis anos de um “enorme vazio” em São Miguel do Iguaçu.
Para o jornalista Jorge Guirado, o desaparecimento do cenário do futsal também significou perda de representatividade no Paraná para a cidade. “Do São Miguel, tenho memórias de disputas memoráveis com Cascavel e Foz. Para uma cidade do porte de São Miguel do Iguaçu, era interessante, pois vendia positivamente a imagem do município. Veja que, depois do clube deixar a Série Ouro, a cidade pouco é lembrada. Não deveriam ter parado. A retomada é como em tudo na vida. Para conseguir aquele prestígio de antes, há uma longa jornada”.
2018 a 2020: retomada

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2018 marcou o retorno da equipe, dessa vez na Série Prata. Buscando tocar fundo no emocional do torcedor, a diretoria repatriou o técnico Baiano. Dessa vez, sem atletas da Seleção Brasileira, como Anderson e Marcelinho, o Amarelinho não conseguiu de cara um título: foi 6º. No ano passado, foi figurante.
Em 2020, tendo como técnico um ex-atleta campeão pelo clube – Fernando Manta -, o São Miguel almeja voltar a figurar entre os 14 principais times do estado. A missão é difícil: o Amarelinho não tem um investimento maciço como dos concorrentes Coronel e Operário Laranjeiras, mas o presidente Emerson Muller crê numa retomada das glórias.
“Somos um clube de elite, temos uma história repleta de títulos. São Miguel é a terra do futsal. O projeto que montamos neste ano, visa levar o time à Série Ouro. Sabemos que outros clubes investiram mais, mas se a gente não conseguir o acesso neste ano, pelo menos queremos estar entre os seis primeiros”.
“Por ter feito parte daquela época de conquistas, eu sei o quanto o São Miguel precisa estar numa Série Ouro. E o nosso torcedor está ligado àquela fase, não aceita estar na Série Prata sem no mínimo ser campeão”, diz o técnico Manta.

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