“Meu despertador é uma lâmpada”: você sabe a rotina de um jovem surdo?

O engenheiro paranaense compartilha seu dia a dia nas redes sociais, ensinando e incentivando o aprendizado de libras através de vídeos

Uma das soluções mais comuns para despertar pela manhã é usar um despertador. Mas para uma pessoa com deficiência auditiva, quais são as alternativas? Com humor e criatividade, Igor Bocioli, morador de Cascavel, no oeste do Paraná, encontrou uma forma diferente de lidar com a questão e compartilhou sua experiência nas redes sociais. Igor, que perdeu a audição aos seis meses de idade, utiliza uma lâmpada como alarme. “Sou surdo. Como me acordar? Por ser surdo, não acordo com som… Meu alarme é uma lâmpada que me avisa quando é hora de levantar”, explicou ele em um vídeo. A publicação já soma mais de 3,4 milhões de visualizações em uma das plataformas.

Rotina
Formado em engenharia de controle e automação, Igor também aproveita seu engajamento para compartilhar aspectos do cotidiano de uma pessoa surda e ensinar sinais da Língua Brasileira de Sinais (Libras). Ele aprendeu a língua aos três anos e, percebendo que muitas pessoas ao seu redor desconheciam Libras, começou a ensinar aos seus seguidores.
“Sempre vi que a maioria das pessoas não sabia Libras. Eu ia a mercados, consultas médicas e outros estabelecimentos, e as pessoas não sabiam como se comunicar. Foi então que tive a ideia de começar a ensinar Libras”, relatou Igor.

Descoberta
Igor nasceu com surdez severa, causada por um quadro de rubéola que sua mãe teve durante a gestação. A condição foi descoberta quando a família notou que ele não reagia a estímulos sonoros. Seu pai, que competia em motocross, estranhou o fato de que o filho não reagia ao barulho das motos. Após o diagnóstico, a motocicleta foi vendida e o valor foi usado para comprar o primeiro aparelho auditivo de Igor. A família se mudou para Cascavel, no Paraná, para que ele pudesse frequentar uma escola inclusiva. Desde então, Igor viveu inúmeras experiências que o inspiraram a mostrar o dia a dia de uma pessoa com deficiência auditiva. Ele acredita que suas postagens ajudam a aproximar “dois mundos”: o das pessoas com e sem deficiência.
“Eu acredito que mostre uma perspectiva que para mim é normal, cotidiana, mas que muitas famílias sentem e a maioria das pessoas desconhece. Minhas postagens são uma forma de aproximar esses dois mundos”, enfatizou.

Emergência
Igor destaca que o aprendizado de Libras é fundamental, especialmente em emergências, como em atendimentos médicos, ou em períodos críticos, como a pandemia da Covid-19, quando o uso de máscaras tornou a leitura labial impraticável para muitas pessoas surdas. Sobre a descoberta de sua surdez, Igor lembra o quanto foi um momento desafiador para sua família. “Foi um momento bastante desesperador. As pessoas não sabiam como eu ia me desenvolver, se era capaz, se poderia ter uma vida normal. Mostrar isso hoje é importante, porque sim, é possível”, concluiu. Pelas redes sociais, Igor busca despertar mais do que curiosidade. Seu objetivo é que as pessoas se conectem com sua história e aprendam, pelo menos, os sinais básicos da língua de sinais.