1500 pessoas são apreendidas na invasão à sede dos três poderes em Brasília
Governador do DF foi afastado por 90 dias; deputados de Direita dizem que barbárie é fruto dos desmandos do próprio judiciário
A manifestação ocorrida na tarde do último domingo (8), ainda deixa muita gente perplexa. A narrativa corrente diz que manifestantes de extrema invadiram o Congresso Nacional, em Brasília. Eles entraram também no plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) e o Palácio do Planalto. Há registros de depredação nas sedes dos três Poderes por criminosos.
Entenda o caso
Desde a última sexta-feira (6) dezenas de ônibus, vindos de diversas partes do país começaram a chegar em Brasília. Segundo o presidente em exercício do Senado, Veneziano Vital do Rêgo, ele foi informado pelo secretário da Casa Civil do Distrito Federal, Gustavo Rocha, que todas as providências para prevenir invasões às sedes dos Três Poderes tinham sido tomadas.
Mas por volta das 13h30, o impensável aconteceu. Os manifestantes invadiram o Congresso, com relativa facilidade e a Polícia Legislativa, com cerca de 60 integrantes, nada pode fazer. Durante mais de duas horas, centenas de manifestantes praticaram atos de vandalismo e destruição do patrimônio público.
Prisões
Na tarde de ontem (9) mais de 1500 pessoas foram presas pelas forças de segurança e conduzidas à sede da PF em 40 ônibus. O Exército e a Polícia Militar do Distrito Federal realizaram nesta ainda uma operação para esvaziar o acampamento bolsonarista no Quartel-General do Exército em Brasília. O grupo foi preso na região da Praça dos Três Poderes pela Polícia Militar com apoio do Exército, que foi chamado para ajudar a conter a invasão.
O ministro do STF, Alexandre de Moraes, que mandou prender os manifestantes, também decretou o afastamento do o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, por 90 dias, porque acha que ele foi omisso na segurança do DF. Em sua defesa, Ibaneis relatou: “continuamos trabalhando para identificar todas as pessoas que participaram desses atos terroristas no Distrito Federal. Seguimos trabalhando para que a ordem se restabeleça”, tuitou.
Destruição
Além da depredação dos prédios públicos, também foram quebrados móveis, sendo que obras de arte foram depredadas e roubadas. Dentre elas, a escultura Bailarina, do artista brasileiro Victor Brecheret, e que ficava na Câmara dos Deputados, foi furtada. Um painel do pintor brasileiro Di Cavalcante, avaliado em R$ 8 milhões, foi esfaqueado sete vezes.
O Ministério da Gestão informou que vai levantar os prejuízos financeiros gerados pela ação criminosa de grupos em Brasília. Em nota, o ministério de Esther Dweck informa que vai trabalhar para o ressarcimento dos valores junto aos responsáveis.
O painel de votação da Câmara dos Deputados também foi destruído e o Salão Verde ficou alagado após princípio de incêndio no local. Além disso, presentes dados por autoridades estrangeiras foram roubados.
O deputado Zeca Dirceu (PT-PR), líder do PT na Câmara dos Deputados, classificou os atos como golpistas e terroristas. O deputado também pediu investigação sobre o financiamento das manifestações. Zeca Dirceu defendeu que a polícia interrogue os participantes dos atos antidemocráticos antes que eles deixem Brasília e voltem para suas cidades de origem.
Intervenção
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou, ainda no domingo (8), a decretação de intervenção federal no Distrito Federal, em resposta, aos atos, classificados por ele como antidemocráticos. A ordem vale até 31 de janeiro. De acordo com o decreto, o objetivo é “pôr termo ao grave comprometimento da ordem pública”. O decreto nomeia Ricardo Garcia Cappelli para o cargo de interventor. Ricardo Capelli afirmou em suas redes sociais que está “cumprindo a missão” que recebeu do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e garantiu que “ninguém ficará impune” após os ataques aos Três Poderes.
Quando a lei é ignorada, instaura-se a barbárie
Deputada Bia Kicis – Como fiel defensora da democracia e da liberdade nas minhas dezenas de anos de vida pública, começo repudiando os atos de vandalismo e depredação do patrimônio público e os ataques a policiais ocorridos nesse último, domingo dia 08/01/23. Não pregamos a violência e eu tenho sido uma voz recorrente na defesa das leis, dos direitos humanos e das garantias fundamentais.
Ocorre que há anos estamos vivendo sob os desmandos de inquéritos ilegais e inconstitucionais, sob o arbítrio de autoridades que não respeitam as leis e a Constituição Federal e, recentemente, o povo brasileiro foi submetido à soltura de um ex-presidente condenado, agora “descondenado”, e a uma série de manobras para que ele pudesse concorrer ao cargo de Presidente da República até que, finalmente, subisse a rampa.
A falta de autoridade moral do referido mandatário gerou um sentimento de inconformismo em pelo menos metade da população, o que foi agravado pelo discurso revanchista que leva a crer que o atual governo não deseja a pacificação, ao contrário, prefere governar apenas para a parcela alinhada da população e utilizar a máquina para perseguir adversários políticos, tudo sob os aplausos da mídia conivente.
Ao mesmo tempo, a escalada de violência contra críticos da volta de Lula ao cenário político e dos inquéritos ilegais do STF e a censura a jornalistas, políticos, pessoas do povo em geral, pelo simples fato de apoiarem o ex-presidente Bolsonaro, aumentaram a sensação de revolta em boa parte da sociedade.
Os atos de vandalismo devem ser rechaçados, investigados e punidos, nas pessoas de seus autores, na forma da lei.
A narrativa dominante, contudo, tem sido a de se responsabilizar e punir não só o ex-presidente Bolsonaro, seus apoiadores, bem como todas as pessoas que estavam se manifestando na tarde de domingo 08/01, ainda que pacificamente, ao arrepio das regras e garantias de direito penal.