Quatro casos de suicídio aconteceram neste mês entre indígenas da Ava Guarani do Oeste do Paraná, levando muitos profissionais da saúde, psicólogos e toda comunidade a se questionarem sobre como lidar com o tema. As principais indagações levantadas se relacionam aos índices, que apontam que dilemas relacionados a falta de perspectiva de futuro e existenciais são mais frequentes entre jovens e adolescentes.
Segundo um documento da Organização Mundial da Saúde (OMS) para prevenção do suicídio, questões socioeconômicas, desemprego e estresse social são fatores agravantes para o número de casos, e estes cenários que já estão ocorrendo no momento devem persistir no pós-pandemia. Além disso, com as medidas de isolamento atuais, a população de risco fica ainda mais fragilizada, pois muitas pessoas sofrem com o distanciamento de entes queridos ou são atormentadas na convivência em um lar abusivo.
Os jovens e a comunidade indígena
Celso Joew Alves, de 32 anos, coordenador da comissão Ava Guarani e liderança da aldeia Ocoy, relatou que casos de suicídio e depressão entre jovens indígenas já ocorriam, mas que percebeu, nos últimos tempos, uma explosão. “Tivemos surto de suicídio entre adolescentes, somente neste mês foram quatro. Perdemos vários jovens, e não foi agora, antes já sofríamos, estamos até falando com os nossos xamãs e rezadores, mas na pandemia temos dificuldades para reuni-los e prestar auxílio a esses jovens”.
Para a psicóloga comportamental de Laranjeiras do Sul, Taiane Franco, o suicídio é uma questão que tem sido muito tratada pela saúde no município, que também percebeu um aumento nos últimos anos entre jovens de modo geral.
“Precisamos falar mais sobre saúde mental dos jovens. Na nossa região, temos um número muito grande de indígenas que abusam do álcool, um componente que mexe no sistema nervoso depressor, o que também pode aumentar as causas muitos comportamentos de indicativos de depressão e ansiedade”, detalha.
O suicídio é o momento muito grave na vida de uma pessoa, porque, quando ela atinge esse momento, significa que perdeu toda a esperança de ter uma solução para os seus problemas. “É quando a pessoa se sente tão desnorteada e desesperada que a única solução é deixar a vida; para tentar aliviar seus sofrimentos. É um momento muito triste”, relata a psicóloga.
Algumas possíveis soluções
Taiane alerta ainda que classificar o ato como coragem ou covardia não é o caminho certo, mas sim buscar não julgar e, acima de tudo, tentar salvar e acolher essas vidas. Inclusive, entre as soluções propostas, especialistas explicam que o combate ao desemprego deve ser uma prioridade, o que pode ser alcançado, entre outras ações, com capacitação da população desempregada para suprir as novas necessidades de serviço demandadas pela pandemia.
O investimento e incentivo ao acompanhamento da saúde mental também é imprescindível às pessoas, além de que o compromisso com a transparência e entrega de informações verdadeiras pode amenizar a sensação de incerteza, diminuindo o desespero e a falta de perspectiva trazida pela mudança de rotina mundial.