Ferramenta terapêutica utiliza RPG para tratar adolescentes
Para o psicólogo e professor da Uniguairacá de Guarapuava, Weslley Silva, o jogo se destaca por ser mais engajador que métodos tradicionais, especialmente para adolescentes
O RPG, ou Role-Playing Game, é um tipo de jogo que envolve a criação de personagens e a interpretação de seus papéis em um mundo fictício. Por envolver os jovens, o está sendo utilizado como ferramenta terapêutica, com resultados positivos no tratamento de diversas condições.
O psicólogo especializado em abordagem Sócio-Histórica, e professor da Uniguairacá Centro Universitário, de Guarapuava, Wesley Kozlik Silva, apresenta uma perspectiva sobre essa nova terapia. “O RPG oferece uma gama de possibilidades para ser adaptado de acordo com cada caso”.
Método
Weslley detalha como o jogo se diferencia de outros métodos. Segundo ele, a escolha se destaca pelo engajamento que proporciona aos pacientes, principalmente aos adolescentes. “Em minha experiência, métodos tradicionais muitas vezes eram considerados insuportáveis por eles. Já esse, gerou um aumento significativo no engajamento e interesse, inclusive com aumento no número de inscrições para o tratamento”.
Para o psicólogo, o jogo oferece um ambiente lúdico e criativo que diminui as resistências, promove a expressão livre e permite a projeção da subjetividade e o autoconhecimento. “Ele contribui para a superação de dificuldades e traumas, proporcionando um espaço seguro para os jogadores enfrentarem seus medos, angústias e desafios”, destaca.
Desafios e soluções criativas
Weslley conta que a utilização do RPG como ferramenta terapêutica também apresenta desafios. Um dos principais é adaptar os sistemas e universos dos jogos às necessidades específicas de cada paciente ou grupo.
O professor explica as técnicas para superar esse desafio. “Coletamos informações sobre os interesses do grupo de adolescentes e selecionamos um sistema de RPG adequado”.
Para se adaptar aos interesses, é criado um cenário que combine com os elementos dos universos favoritos dos adolescentes com as necessidades terapêuticas. “Inserimos gatilhos e perguntas durante o jogo para estimular a reflexão e o autoconhecimento e reajustamos constantemente a história para abordar os temas relevantes para o grupo”, disse ela.
Exemplos que inspiram
O psicólogo compartilha três exemplos de como o RPG foi utilizado com sucesso em seus grupos terapêuticos:
-Desenvolvimento de habilidades de leitura: uma estagiária orientou uma criança de oito anos com dificuldades de leitura. “A história se passava em um reino encantado onde a criança era uma princesa. Desafios relacionados à leitura, como recuperar letras roubadas, foram utilizados para superar a ansiedade e reconhecer as habilidades da criança”.
-Desenvolvimento de habilidades sociais: um grupo de adolescentes de uma comunidade carente foi beneficiado. O cenário do RPG era um mundo onde a falta de afeto resultava em consequências negativas. “Ao interagir com personagens sequestrados, os adolescentes aprenderam a valorizar as qualidades uns dos outros e desenvolveram uma visão positiva do futuro”, disse ele.
-Aplicação educacional em contexto acadêmico: em um curso de doutorado, o jogo foi utilizado para ensinar sobre pesquisa etnográfica. Os alunos vivenciaram a pesquisa de forma lúdica, explorando a vida de um povo fictício. “A experiência resultou em uma discussão reflexiva sobre a aplicação prática da metodologia etnográfica”.
Terapia personalizada
Weslley destaca que a adaptação do RPG para diferentes necessidades terapêuticas segue os mesmos critérios que qualquer atendimento psicológico individualizado e que é fundamental considerar os interesses e necessidades específicas de cada paciente ou grupo. “O RPG oferece uma gama de possibilidades para ser adaptado de acordo com cada caso, desde a escolha do sistema e universo até os desafios e recompensas presentes na história. Em minha tese, em que a prática durou um curto prazo de oito meses, pude perceber, por ora, que o impacto foi bom. A ideia é seguir com esta abordagem para saber mais”, finaliza.