Antissemitismo: UFFS abriga cartazes com mensagens de ódio aos judeus
Manifesto chama Israel de estado assassino e conclama que a América Latina tome o massacre de 7 de outubro do ano passado (onde quase 1,2 mil foram assassinados) como exemplo para expulsar os “ianques”
Cartazes com mensagens de ódio, pregando o antissemitismo na Universidade Federal da Fronteira Sul, em Laranjeiras do Sul. Por este motivo, uma aluna que não quer ter o nome revelado, procurou o jornal Correio. “Me incomoda ver a banalização da maldade, seja de que lado for. Naquele dia, há pouco mais de um ano, terroristas fortemente armados invadiram aquelas pequenas comunidades, indo de porta em porta para torturar, mutilar, assassinar e queimar vivos civis inocentes, como podem chamar isso de heroísmo? Quando mulheres e homens jovens são perseguidos por horas em um festival de música apenas para serem baleados, estuprados e feitos reféns, qual motivo existe para comemorar?”, questiona a estudante.
Frases de ódio
As frases estampadas em um bloco de aulas do campus trazem mensagens como “Viva a Palestina”, “Esmague o sionismo”, “Fora de Gaza, Israel facista (sic)”, “Palestina livre” e “Morte ao imperialismo”, o que foi interpretado por essa aluna e outros membros da comunidade acadêmica como incitação ao ódio contra o povo judeu e o Estado de Israel. “Acho um absurdo o que eles têm feito lá dentro. A gente já é perseguido por uma série de coisas. Os alunos sofrem uma lavagem cerebral. É fim do mundo. Algo assustador”, disse um professor, cujo nome, ele pediu para ocultar.
Circula pela universidade ainda, um manifesto que chama de heroísmo o massacre do ano passado. “Enquanto a Resistência Nacional Palestina continuar travando suas lutas pela libertação de seu povo e enquanto o governo brasileiro se manter comprometido em fazer acordo com genocidas nazi-sionistas, segue sendo tarefa de todos os internacionalistas e verdadeiros democratas de nosso país realizarem mais ações em solidariedade ao povo palestino (… veja o manifesto no box). Ele é assinado pelo Diretório Central dos Estudantes da UFFS – LDS, pelo Centro Acadêmico de Pedagogia Anita Garibaldi, pelo Centro Acadêmico de Ciências Sociais Lélia Gonzalez e pela Seção Sindical dos Docentes da UFFS – SINDUFFS- SN. Até o fechamento da edição, não conseguimos contato com os representantes para uma apresentar sua versão. O espaço fica aberto para que se manifestem.
Crime
É importante ressaltar que o conteúdo dos cartazes fere diretamente a Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, que prevê punições para crimes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Conforme o artigo da lei: “Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Pena: reclusão de um a três anos e multa.”
Como aponta outra professora: “a legislação tem como objetivo proteger a sociedade de atos de intolerância e coloca o antissemitismo no mesmo patamar de outros crimes de ódio. Assim suas manifestações públicas são passíveis de sanção legal”, defende.
Já para a direção da universidade, esse é um tema que envolve as áreas de atuação dos professores, perspectivas teóricas e posicionamentos particulares, e que na verdade, não é consenso entre todos. “Eles têm autonomia e liberdade para fazer suas defesas. A UFFS, até este momento, não emitiu posicionamento e, ao mesmo tempo, tem garantido a liberdade de todos defenderem suas ideias”, diz o diretor do campus, Fábio Zeneratti.
Professores só falam de forma anônima
Por outro lado, para um professor que prefere ter o nome resguardado, a presença desses cartazes na UFFS não só viola a legislação vigente, como também levanta preocupações sobre o ambiente de convivência acadêmica e a importância de promover o respeito às diferenças, especialmente em espaços de educação superior. O episódio também reacende o debate sobre o limite entre a crítica política e a propagação de discursos de ódio, e como garantir que a liberdade de expressão não seja usada como ferramenta de intolerância.
Outro professor que prefere não se identificar diz que não vai falar e até fica distante deste debate, para manter sua sanidade mental.
Para outro professor, que prefere manter o anonimato, qualquer tipo de guerra deve ser repudiada. “Ao meu juízo, guerras e os massacres no mundo inteiro, devem mobilizar toda a humanidade. Agora, o que o estado de Israel está fazendo em Gaza se chama genocídio e recebe o meu repúdio. O mesmo acontece na Ucrânia e em muitas favelas. O mundo entrou na rota da barbárie”, diz.
Por fim, ainda para outro professor que também não quis se identificar, esse é um debate que exige fundamentação. “Até que ponto vai a liberdade de cada um? Essa liberdade vai até que fere os direitos dos outros. Quando a UFFS tem a oportunidade de melhorar sua imagem vem esses extremistas e deturpam o debate”, desabafa.