“De Corpo e Alma” tem o maior índice de audiência das novelas de Glória Perez

Para a surpresa de muitos, a liderança entre os folhetins de Glória Perez, em números do Ibope, pertence à uma obra polêmica. “De Corpo e Alma” foi exibida no horário das 20 horas da Globo entre 1992 e 1993. 

Protagonizada por Cristiana Oliveira, Bruna Lombardi e Tarcísio Meira, a história tinha como mote central a paixão de um homem casado por uma jovem, que tem morte cerebral após um acidente de carro. Seu coração então é transplantado em uma jovem com problemas cardíacos. O homem então se aproxima da moça sem ela saber de sua relação com a doadora de seu coração e eles se envolvem em um romance.

A história, com tema inovador e ousado para o início dos anos 1990, agradava o público e ia muito bem na audiência, até que uma tragédia a marcou. A atriz Daniella Perez, filha de Glória, foi assassinada aos 22 anos por seu parceiro de cena, Guilherme de Pádua e a esposa dele, Paula Nogueira Thomaz. O crime ocorreu na noite do dia 28 de dezembro de 1992. A jovem foi encontrada em um matagal no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro, com 18 punhaladas. 

O crime chocou o país todo. Mesmo com a morte da filha, Glória Perez ficou poucas semanas afastada da Globo, e, por decisão própria, resolveu retornar e concluir “De Corpo e Alma”. A novela registrou 52 pontos de média, mas a tragédia fez com que qualquer personagem ou cena fosse apagada da memória do telespectador, que não consegue desvincular o folhetim do assassinato da filha da autora. Em respeito à Glória, a Globo e o Viva, nunca cogitaram reprisar a trama. 

A autora

Glória Perez é uma das autoras mais queridas pelo público e bem sucedidas quando o assunto é emplacar novelas de sucesso. A roteirista iniciou sua trajetória na teledramaturgia em 1983, como colaboradora de Janete Clair na então novela das 22 horas “Eu Prometo”. 

Um ano depois, o então ‘chefão’ da Globo, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o ‘Boni’, decidiu que ela e o também iniciante Aguinaldo Silva seriam os responsáveis por uma novela das 20 horas. 

Até então, Glória e Aguinaldo nem ao menos se conheciam. Além disso, como pode-se perceber hoje, os dois possuem maneiras distintas de conduzirem suas histórias. O resultado não poderia ser outro se não uma audiência insatisfatória, com "Partido Alto" mantendo os mesmos 46,8 pontos de sua antecessora, “Champagne”. Os números eram inaceitáveis na época pela Globo, que estipulava 50 pontos como meta. 

No entanto, depois de uma passagem rápida pela extinta TV Manchete, onde escreveu “Carmem” – insignificante em audiência, mas elogiada pela crítica -, e a volta triunfal para a emissora dos Marinho, com “Barriga de Aluguel”, Glória Pérez conseguiu consolidar sua carreira, ao escrever obras que entraram para a história da televisão brasileira como “O Clone” e “América”. 

Nesse caminho, a autora também escreveu fracassos, como o remake de “Pecado Capital", em 1998, e “Salve Jorge”, em 2012. Ainda assim, uma das fortes e elogiáveis características de suas novelas são os merchandising’s sociais. Em sua última trama, “A Força do Querer”, ela abordou a transsexualidade. Em "Salve Jorge", o enfoque ficou em torno do tráfico de mulheres. “O Clone”, em reprise no Viva, foi bem sucedida ao discutir sobre a dependência química. “Explode Coração” comoveu o país ao retratar o drama das crianças desaparecidas e suas famílias. 

Glória Perez já escreveu 14 novelas
Foto: Reprodução

Os êxitos da carreira

Existem diversos parâmetros para se considerar uma novela como sucesso ou fracasso, alguns até são subjetivos, como a crítica. Por exemplo, as recentes produções de Walcyr Carrasco para o horário das 21 horas, “O Outro lado do Paraíso” e “A Dona do Pedaço” foram duramente condenadas pela mídia especializada. Na contramão, as duas novelas foram grandes fenômenos de audiência. 

Há quem acredite que “O Clone” tenha sido o trabalho mais bem sucedido da autora, por conta de ser bastante lembrado pelo público, e também pelo sucesso fora do Brasil, já que o folhetim foi exportado para mais de 90 países. O fenômeno foi tanto, que o enredo ganhou uma versão hispânica. Em entretanto, em parâmetro de números proporcionais do Ibope, o tento pertence mesmo a "De Corpo e Alma". Confira abaixo, os números de cada obra de Glória Perez:

 

Novela

Ano 

Emissora

Audiência

Partido Alto

1984

Globo

46,8

Carmem

1987/1988

Manchete

3,3

Barriga de Aluguel

1990

Globo

36,7

De Corpo e Alma

1992/1993

Globo

52,7

Explode Coração

1996

Globo

47,3

Pecado Capital

1998/1999

Globo

26,7

O Clone

2001/2002

Globo

46,7

América

2005

Globo

49,2

Caminho das Índias

2009

Globo

38,5

Salve Jorge

2012/2013

Globo

33,9

A Força do Querer

2017

Globo

35,6