Brasileira dá volta ao mundo para fugir de ex-companheiro

Perto de completar 40 anos, ela decide que irá conhecer 40 países antes de atingir a idade “limite” dos 40

Por Estadão Conteúdo

Os dados sobre o crescente aumento da violência contra a mulher no Brasil são assustadores. O próprio Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMDH), divulgou em seu site que durante o mês de abril deste ano, após mais de um mês de isolamento social em consequência da pandemia ocasionada pelo COVID-19, o número de ligações para o canal 180 subiu em média 40% em comparação ao mesmo mês de 2019. Isso quando as ligações não chegam ao 180 a tempo e se tornam números em uma estatística muito pior: a do feminicídio.
Mas o que fazer para se livrar de diversas ameaças de morte? Por medo, muitas pessoas deixam de denunciar e simplesmente fogem para preservar suas vidas. Esse foi o caminho trilhado por Silvia Mantovani, advogada brasileira que morava na Espanha e, cansada de ser perseguida e sofrer ameaças por parte de seu ex-companheiro, decide mudar de trabalho, de cidade e de país. Essa mudança completa de vida, hoje, tornou-se inspiração para Silvinha – como gosta de ser chamada – escrever o livro 40 antes dos 40 – Um passaporte salvou minha vida e com sua história mostrar que sempre é tempo de reconstrução e recomeço.


História
Nascida em uma família humilde do interior do Paraná, viveu toda sua infância e adolescência sob a violência doméstica do pai que era alcoólatra e ludopada. “Meu pai chegava bêbado em casa praticamente todos os dias e nos espancava. Quebrava tudo dentro de casa. Muitas vezes ao chegar na escola eu não conseguia sentar na carteira tamanha era a dor que se espalhava pelo corpo. Se hoje com toda a legislação existente para proteger as crianças já é difícil fazer as denúncias, imagina há 35 anos atrás”.
Começou a trabalhar mais ou menos com 10 anos de idade. Cresceu sonhando em estudar e ser independe. Mesmo com toda a dificuldades que a vida lhe oferecia, conseguiu graduar-se em Direito, em seguida mudou-se para a Espanha com o intuito de fazer um Master e aprender outro idioma. Foi lá onde conheceu, em teoria, quem seria seu príncipe encantado. O que era para ser uma linda história de amor quase foi parar nas páginas policiais europeias.
Depois de muitas ameaças de morte, contra ela e sua família, Silvinha decidiu fugir. Decidiu que não queria se transformar em mais um número estatístico do feminicídio. Segundo ela foi a única forma de se proteger e proteger a sua família. “Cheguei no fundo do poço mesmo, mas graças a Deus no fundo do meu poço tinha um passaporte e esse passaporte salvou minha vida”


Livro
Toda essa história, desde a infância difícil, passando por um relacionamento abusivo e traumático na vida adulta se transformou em um livro que mostra um término de relacionamento até então amigável, mas que logo ganha ares de filme de terror, com direito a muita perseguição e chantagens. Além das ameaças, Silvinha acaba por ficar sem teto e sem seus pertences, confiscados por seu antigo parceiro e que só aceita devolve-los sob ordem judicial. Alojada de favor na casa de amigos, com pouco dinheiro e movida por um impulso, ela então decide viajar para Roma e nesta viagem entende que precisa voltar ao ponto de partida e buscar a felicidade interior já perdida há muito tempo. “Saí da relação com a roupa do corpo e mais nada! Recomecei minha vida do zero. Foi aí que surgiu a ideia do meu projeto de vida” – Silvinha Mantovani

40 antes dos 40 
Inicia-se então a trajetória que nomeia o livro: perto de completar 40 anos, Silvinha decide que irá conhecer 40 países antes de atingir a idade “limite” dos 40. Por incrível que pareça ela consegue atingir a marca e coleciona ricas histórias de reflexões e encorajamento descritas nos oito capítulos deste livro (nomeados por cidades e histórias que marcaram sua trajetória). Faz das viagens pelo mundo sua terapia, onde vai curando os traumas que a vida lhe deu.
O livro 40 antes dos 40  é baseado em fatos reais, sendo assim é uma história que mostra superação e inspiração para quem teme por recomeços ao romper um relacionamento falido e abusivo. Aos que pensam estar no fundo do poço sem direito a uma nova chance de ser feliz, Silvinha mostra como um passaporte foi seu salva-vidas e que cada um pode encontrar abrigo em algo que ama  “O objetivo maior em contar minha história é ajudar outras pessoas a saírem dessas relações venenosas; seja através do ato de viajar, de estudar, mudar de emprego ou qualquer outra coisa que possa mover seu coração”, conclui Silvinha.


Sobre a autora
Silvinha Mantovani hoje tem 42 anos, é formada em Direito e já viajou para mais de 60 países e realizou mais de 350 viagens pelo mundo. Se auto define como uma 'viajante compulsiva'. A menina pobre que começou a trabalhar aos 10 anos para ajudar a família e manter-se longe do clima hostil que era morar com um pai alcoólatra e violento deixou o Brasil em 2006 para cursar MBA fora do país e nunca mais voltou. Hoje trabalha como conferencista e faz da sua bagagem seu lar. Coleciona mais de 200.000 em seguidores, de diversos países por onde passa, em suas redes sociais onde compartilha suas viagens, aventuras e dá dicas para quem sonha em aventurar-se viajando pelo mundo
 

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