“Drogas sonoras” tem influenciado jovens na internet
Consumo de batidas binaurais podem causar danos ao aparelho auditivo, além de estimularem o uso de drogas
O uso da plataforma i-doser tem sido estimulado ultimamente na plataforma TikTok, onde usuários dizem que a plataforma é capaz de produzir sensações parecidas com os efeitos de drogas alucinógenas. Jovens tem compartilhado essa nova sensação que pode ser extremamente prejudicial à saúde auditiva.
A plataforma disponibiliza doses de ondas sonoras provocando, segundo relatos, um efeito que deixa a pessoa “louca” ou “chapada”. A sensação seria a mesma de usar um alucinógeno.
As “drogas sonoras” ou “drogas digitais” preocupam pais e especialistas. Por não ser um tipo de entorpecente, esse consumo não vicia, mas traz prejuízos graves para a audição. A referida sensação de entorpecimento é falsa. O cérebro pode interpretar estes sons como fontes de prazer ou que através deles uma sensação específica possa ser gerada. Na realidade essa interpretação é estimulada pela percepção dos próprios jovens que acreditam nos relatos compartilhados em redes como o TikTok. Há a ilusão de que esses sons possam de fato gerar algum efeito parecido com o de drogas ilícitas. Na plataforma i-doser, inclusive, muitos dos sons possuem o nome de drogas proibidas, como a maconha, por exemplo.
As “drogas sonoras” tem frequências e intensidades variadas e são vendidos em sites ou aplicativos. Existem também músicas disponíveis no YouTube que prometem o mesmo efeito. Esse tipo de conteúdo é inspirado em uma técnica conhecida como binaural beats, descoberta no fim do século 19. Não é algo novo, mas ganhou espaço nas redes sociais.
Mentira prejudicial
Os relatos divulgados na internet dizem que os efeitos alucinógenos podem até mesmo levar a uma overdose. A informação é falsa. Até o momento não existem dados que comprovem alguma reação específica causada por esses sons no organismo. Porém, especialistas recomendam cuidado, pois esses sons podem afetar o aparelho auditivo.
Os internautas afirmam que as batidas binaurais devem ser ouvidas com fones de ouvido e com volume alto. O nível seguro de ruído para os ouvidos de crianças e adolescentes é de 70 decibéis. O ruído de fones de ouvido varia de 60-70 decibéis e 110-120 decibéis. Quando ultrapassado o limite seguro e durante muito tempo de uso, tal prática pode levar a perda auditiva. As frequências dessas batidas são diferentes para cada ouvido criando uma sensação diferente da de ouvir sons e músicas comuns.
Efeitos nos usuários
Usuários das batidas binaurais dizem relaxar, se concentrar melhor ao realizar um trabalho, ou simplesmente tem experiências sensoriais novas. O intuito de muitos usuários é também experimentar estados alterados de consciência. Em sua grande maioria essas pessoas buscam relaxar ou dormir, mas outras querem simular experiencias alucinógenas.
Uma pesquisa publicada no periódico Drug and Alcohol Review ouviu 30,8 mil pessoas em 22 países. Os dados recolhidos apontam que Estados Unidos, México, Brasil, Polônia, Romênia e Reino Unido são os países que mais fazem uso das batidas binaurais e que jovens entre 16 e 20 anos são os que mais consomem tal conteúdo. Não há relato de alteração cerebral nos usuários.
Então, apesar de não viciar, uma pessoa pode sugerir que esses sons produzam, de fato, efeitos psicodélicos. Essa prática pode levar o usuário ao consumo de drogas reais: porque não conseguiu vivenciar os efeitos desejados ou porque sentiu leves impulsos sensoriais, levando o indivíduo a supor que a sensação seja amplamente mais potente ao usar algum tipo de droga.
O i-doser, disseminado pelas redes sociais já está na mira de especialistas, que tratam o assunto como mais um “fenômeno atual” entre os jovens, porém nocivo. A principal atenção dada por médicos é que essas falsas drogas afetem a audição de crianças e adolescentes. Além de causar dano ao ouvido, a “estimulação exagerada e contínua pode ocasionar a perda da neuroplasticidade e assim, afetar as conexões necessárias para o desenvolvimento cerebral e mental saudável”, como relata a nota de alerta da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).