Operação Mensageiro revela esquema de corrupção com prisão de 15 prefeitos em SC

Denúncias e delações apontavam para esquema de propina em licitações com empresa responsável por coletas de lixo no Estado

Na manhã de quinta-feira (27), a quarta fase da Operação Mensageiro foi deflagrada, resultando na prisão de 15 prefeitos do Estado de Santa Catarina e colocando sob suspeita um suposto esquema de corrupção na licitação de lixo em várias cidades. As prisões representam cerca de 5% de todos os prefeitos do Estado e envolvem sete partidos diferentes.

Fases

A investigação do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) teve início há aproximadamente um ano e meio, após delações premiadas, rastreamento de celulares e análise de documentos. Na primeira fase, em 6 de dezembro de 2022, quatro prefeitos foram detidos.

O prefeito Luis Antonio Chiodini (PP), de Guaramirim, também foi alvo de mandado de prisão, mas não foi encontrado, pois se encontra em viagem familiar na Europa, segundo informações da prefeitura.

O prefeito de Lages, Antônio Ceron, foi solto mediante o uso de tornozeleira eletrônica devido a problemas de saúde. Os demais políticos permanecem presos, sendo que cinco deles são réus no processo.

Gaeco

De acordo com as investigações lideradas pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), uma empresa catarinense teria sido a responsável por subornar agentes públicos do estado, a fim de ter acesso a licitações em diferentes municípios.

Os investigadores afirmam que um empresário era o responsável por intermediar a negociação de propinas com os agentes públicos. Esse indivíduo atuava como um “mensageiro”, mesmo não trabalhando mais na empresa há 10 anos, desempenhando o papel de intermediador entre a empresa e os agentes públicos.

Contrapontos

Confira o que dizem os presos na 4ª fase da operação e a empresa indicada como a pivô do esquema:

Adilson Lisczkovski (Patriota), de Major Vieira 

A reportagem tentou contato com a defesa, mas não teve retorno até a publicação.  

Adriano Poffo (MDB), prefeito de Ibirama 

Em nota à imprensa, a prefeitura de Ibirama informou que o prefeito Adriano Poffo foi preso e permanecerá sob custódia da Justiça. Ele deve prestar depoimento prévio no início de maio. A nota informa ainda que “o presidente do Poder Legislativo, Fernando Jost, iniciará o processo legal de transmissão de cargo de chefe do Executivo ao vice-prefeito, Jucélio de Andrade”. 

Alfredo Cezar Dreher (Podemos), de Bela Vista do Toldo 

A reportagem tentou contato com a defesa, mas não teve retorno até a publicação.  

Armindo Sesar Tassi (MDB), prefeito de Massaranduba 

A reportagem tentou contato com a defesa, mas não teve retorno até a publicação.  

Felipe Voigt (MDB), prefeito de Schroeder 

A prefeitura informou que não tinha informações sobre os mandados cumpridos e que emitiria nota com mais detalhes  

Luiz Antonio Chiodini (PP), prefeito de Guaramirim 

A defesa confirmou que houve a expedição de um mandado de prisão contra o prefeito, que está em viagem. O advogado informou que entrará em contato com o Ministério Público a respeito do assunto.  

Luiz Carlos Tamanini (MDB), prefeito de Corupá 

Em nota, a defesa afirmou que não vai se manifestar já que o processo corre em segredo de Justiça. 

Luiz Shimoguri (PSD), prefeito de Três Barras 

Em nota, a prefeitura de Três Barras confirmou a prisão do prefeito, mas como o processo corre em segredo de justiça, aguarda a operação avançar para se manifestar. A reportagem não conseguiu contato com a defesa do prefeito. 

Patrick Correa (Republicanos), prefeito de Imaruí 

A reportagem tentou contato com a defesa, mas não teve retorno até a publicação.  

Confira o que dizem os prefeitos que viraram réus: 

Joares Ponticelli (PP), prefeito de Tubarão  

A defesa de Joares Ponticelli afirmou que não há necessidade de o cliente seguir preso, pois as provas processuais já foram produzidas e não há risco de Ponticelli fugir. 

Marlon Neuber (PL), prefeito de Itapoá  

Em nota, o advogado Marcelo Pelegrino, que atua na defesa do prefeito, Marlon Neuber (PL); do cunhado dele, Amilton José Reis, e do chefe de gabinete, Jadiel Miotti do Nascimento, disse que “o recebimento da denúncia é decisão que não significa reconhecimento da culpa” e que “a defesa de Marlon, Jadiel e Amilton esclarece que agora poderá apresentar sua defesa durante a instrução criminal”. 

Edenilson Engel (PSD), vereador de Três Barras 

A Câmara de Vereadores confirmou a prisão do parlamentar e que enviaria uma nota a respeito, mas não se manifestou. A reportagem tentou contato com a defesa, mas não teve retorno até o fechamento da edição. 

Prefeitura de Gravatal  

O município confirmou que recebeu agentes do Gaeco para o cumprimento de mandados de busca e apreensão de documentos de “diversos períodos e gestões administrativas” e que vai atender todas as determinações e prestar apoio ao MP.  

Prefeitura de Braço de Norte 

Em nota, o Executivo disse que está colaborando com o MP e que vai fornecer a documentação solicitada durante a quarta fase da operação.  

Grupo Serrana  

O Grupo Serrana informou em nota que, em respeito ao sigilo judicial, todos os esclarecimentos e manifestações serão realizadas exclusivamente nos respectivos processos da Operação Mensageiro.

As fases da Operação Mensageiro

Primeira fase 

A primeira fase da Operação Mensageiro foi deflagrada em 6 de dezembro de 2022. Nesta etapa foram cumpridos 15 mandados de prisão preventiva e 108 de busca e apreensão nas regiões Norte, Sul, Vale do Itajaí e Serra. 

Principais alvos: 

  • Deyvison Souza, prefeito de Pescaria Brava  
  • Luiz Henrique Saliba, prefeito de Papanduva 
  • Antônio Rodrigues, prefeito de Balneário Barra do Sul 
  • Marlon Neuber, prefeito de Itapoá 

Segunda fase  

Deflagrada em 2 de fevereiro deste ano, na segunda fase foram cumpridos quatro mandados de prisão e 14 de busca e apreensão no Sul e na Serra catarinenses. Ela foi um desdobramento das provas colhidas com as primeiras prisões, em dezembro de 2022. 

Principais alvos:  

  • Antônio Ceron, prefeito de Lages 
  • Vicente Corrêa Costa, prefeito de Capivari de Baixo  

Terceira fase 

Essa etapa foi deflagrada em 14 de fevereiro deste ano. Ao todo, foram cumpridos dois mandados de prisão preventiva e oito de busca e apreensão, todos em cidades do Sul de SC. 

Principais alvos:  

  • Joares Ponticelli, prefeito de Tubarão  
  • Caio Tokarski, vice-prefeito de Tubarão 

Quarta fase 

Foi deflagrada na última quinta-feira, dia 27 de abril, com o cumprimento de 18 mandados de prisão e 65 de buscas nas regiões Sul, Planalto Norte, Alto Vale e Vale do Itapocu. As ações ocorrem em Massaranduba, Imaruí, Três Barras, Gravatal, Guaramirim, Schroeder, Ibirama, Major Vieira, Corupá, Bela Vista do Toldo, Braço do Norte e Presidente Getúlio. 

Principais alvos: 

  • Luiz Carlos Tamanini (MDB), prefeito de Corupá 
  • Adriano Poffo (MDB), prefeito de Ibirama 
  • Adilson Lisczkovski (Patriota), prefeito de Major Vieira 
  • Armindo Sesar Tassi (MDB), prefeito de Massaranduba 
  • Patrick Correa (Republicanos), prefeito de Imaruí 
  • Luiz Shimoguri (PSD), prefeito de Três Barras 
  • Alfredo Cezar Dreher (Podemos), prefeito de Bela Vista do Toldo 
  • Felipe Voigt (MDB), prefeito de Schroeder 

O prefeito de Guaramirim, Luis Antonio Chiodini (PP), que também é alvo da operação não foi localizado pelas equipes do Gaeco porque está fora do país. Segundo a colunista Dagmara Spautz, ele viajou para a Inglaterra para a formatura do filho.