Professoras laranjeirenses relatam o desafio do ensino no Dia Mundial da Alfabetização
“Questão vai além das técnicas de números, escrita e leitura. É fundamental para a formação da identidade de cada um”, argumenta Eliane Faccin
Por Thamiris Costa
O Dia Mundial da Alfabetização foi criado em 8 de setembro de 1967 pela Organização das Nações Unidas (ONU), por meio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). A data tem como objetivo ressaltar a importância da alfabetização para o desenvolvimento social e econômico mundial.
Importância da Alfabetização
É muito comum, quando se fala em alfabetização, pensarem apenas em letras e em números. Porém, segundo a professora Eliane Faccin Melo, do Colégio José Bonifácio, a alfabetização vai além dessa técnica, pois é a base de uma educação construtiva que ajuda as pessoas a desenvolverem a escrita, a comunicação e os pensamentos.
“Por isso, o Dia Mundial da Alfabetização tem uma relevância muito grande; não só pela conscientização sobre a importância de saber ler e escrever, mas também por discutir e propor alternativas possíveis para tornar a alfabetização mais acessível a todos no mundo”, explicou ela.
A alfabetização, apesar de ser a base da educação e um direito humano fundamentado pela Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), ainda não é totalmente acessível. Isso porque o ensino básico de qualidade ainda é uma realidade distante para muitas pessoas, que encontram dificuldades para se alfabetizar ou continuar os estudos pelas desigualdades sociais, por preconceitos diversos, por disparidades de gênero e tabus culturais.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica (IBGE), a taxa do chamado “analfabetismo absoluto” no Brasil é de 6,8%. Como ocorre com os dados internacionais, o analfabetismo não atinge a todos da mesma forma.
“Na análise por cor ou raça, em 2018, 3,9% das pessoas de 15 anos ou mais – de cor branca – eram analfabetas, percentual que se eleva para 9,1% entre pessoas de cor preta ou parda. No grupo etário 60 anos ou mais, a taxa de analfabetismo das pessoas de cor branca alcança 10,3% e, entre as pessoas pretas ou pardas, amplia-se para 27,5%”, descreve nota do IBGE.
Os ciclos de alfabetização
“A alfabetização é muito mais do que ensinar técnicas de escrita ou números”, conta Eliane. “Os primeiros anos da criança na escola são chamados de ciclos alfabetização, que compreende do primeiro ao terceiro ano. Eles são uma continuação do processo de construção do conhecimento que vem desde a educação infantil, iniciado com as brincadeiras, com atividades de música, de dança, coordenação motora, oralidade etc.”
Por isso, é de extrema importância que não haja rupturas nesse processo, pois ele pode refletir dificuldades de aprendizagem no futuro do indivíduo. “As crianças precisam se sentir acolhidas e envolvidas no espaço alfabetizador, tanto para a construção do processo de leitura, quanto para a escrita e a construção do número. Na alfabetização é fundamental a participação ativa das crianças, valorizar as vivencias de cada um”, adicionou a professora Eronice Ribeiro.
Antes de aprender a escrever e a identificar números, a criança precisa saber o que está produzindo e sua função social, que leva a construção significativa do conhecimento, ou seja, precisa ter coordenação motora ampla e muito bem trabalhada, ganhar vocabulário, aprender o significado de novas palavras, brincar com quebra cabeça, diferenciar tamanhos, normas, linhas e direções.
“É um processo complexo, elas precisam conhecer o próprio corpo, explorar os espaços, ouvir histórias e recontá-las; construir identidade e autonomia: falar, perguntar, argumentar, quantificar inúmeras coisas; escutar músicas e rimas, reconhecer letras e sons. Por isso é tão importante que elas tenham acesso a livros nessa fase, apreciar a leitura é primordial para desenvolver curiosidade e vontade de aprender”, contou Eronice.
Metodologia de aprendizagem
Segundo a pedagoga Terezinha Roxa, coordenadora do curso de Formação de Docentes do Colégio Estadual Gildo Aluísio Schuck e Professora no Colégio Estadual do Campo Iraci Salete Strozak, em Rio Bonito, durante a alfabetização são abordados conteúdos embasados na gramática e na ortografia, assim como sua relação com os sons da linguagem falada.
“Desse modo, uma pessoa alfabetizada pode não ser letrada, pois não possui o hábito da leitura e, com isso, não consegue responder apropriadamente às necessidades sociais da escrita e da leitura. É por isso que letrar é mais que alfabetizar; é ensinar a ler e escrever dentro de um contexto em que a escrita e a leitura tenham sentido e façam parte da vida do aluno”, detalhou ela.